José Hiran da Silva Gallo
Diretor-tesoureiro do Conselho Federal de Medicina
Doutor e Pós-Doutor em Bioética
Encerrado o ciclo eleitoral, é hora de avaliar o que aconteceu durante esse período conturbado da história do País, em 2018, para tirar lições que contribuam com aperfeiçoamento do jogo democrático. Para tanto, nada melhor que números para ajudar na definição de hipóteses que expliquem o fenômeno que atropelou todas as previsões e inaugurou um novo ciclo nas relações políticas e de poder na Nação.
Ao final da contagem de votos, na noite de domingo (28), o mapa brasileiro revelou a força da onda sobre a qual surfou o presidente eleito, Jair Bolsonaro, que venceu o pleito com 55% dos votos, ou seja, 10,7 milhões a mais do que seu adversário, o candidato petista Fernando Haddad.
A vitória de Bolsonaro aconteceu em 2.760 municípios brasileiros, uma quantidade um pouco menor do que o total de 2.810 cidades onde Haddad saiu na frente. Porém, ao analisarmos o perfil das localidades fica evidente que a então aposta do PSL teve melhor desempenho em áreas mais povoadas e com melhores índices de desenvolvimento econômico e humano.
Em outras palavras, isso mostra que o apoio ao candidato do PT esteve estritamente ligado à existência de um quadro agudizado pela carência e pela dependência de políticas de governo, como o Bolsa Família. Por outro lado, o desempenho de Jair Bolsonaro foi superior nas localidades com maior IDH, onde a influência dessas ações perdeu força diante da expectativa de medidas que ataquem problemas como o desemprego, a falta de segurança e a corrupção.
Em São Caetano do Sul (SP), cidade com maior IDH do País, o capitão Bolsonaro ganhou com 75,1% dos votos. Por outro lado, no pequena Melgaço (PA), com menos de 10 mil habitantes e mais baixo IDH do País, a vitória foi de Fernando Haddad (75,6% dos votos). Em síntese, o agora Presidente Eleito saiu como líder aclamado em 97% das cidades mais ricas e Haddad em 98% das mais pobres.
Ao analisar ambos os desempenhos a partir dos extremos demográficos, percebe-se que nos mil municípios com maiores IDHs do País, Jair Bolsonaro foi o primeiro colocado nas urnas em 967, enquanto Haddad conquistou 33. Em Rondônia, duas cidades integram essa lista – Porto Velho (876ª posição) e Vilhena (993ª). Em ambas, o desempenho do Presidente Eleito foi superior ao seu adversário. Respectivamente, na capital, ele teve 69% votos contra 31%; e no quarto município mais populoso do Estado, recebeu 81,5% das cédulas.
Por sua vez, nas mil cidades menos desenvolvidas do País, o candidato do PT levou a melhor em 975 e Bolsonaro em 25. Contrariando essa tendência, no Estado, o fenômeno do PSL não se intimidou e faturou a liderança mesmo nas três localidades rondonienses que integram a lista dos municípios com piores IDHs no Brasil.
Em Nova União e Nova Mamoré, que compartilham a 4.467ª posição do ranking nacional da pobreza, Jair Bolsonaro recebeu, respectivamente, 56% e 75,5% dos votos. Já em Vale do Anari, que fica no 4.540º lugar, ele obteve 67,6% das cédulas. Em linhas gerais, a mesma tendência acompanhou a votação do governador eleito, coronel Marcos Rocha, também integrante do PSL.
Avaliando a performance de Marcos Rocha em quatro das cinco localidades rondonienses, verifica-se que ele recebeu percentuais de votos semelhantes ao de Jair de Bolsonaro. Foi de 61% dos votos, em Vale do Anari, a 73%, em Vilhena. No único lugar em que não venceu (Nova União) teve 49,89% das cédulas contra 50,11% de seu adversário, Expedito Júnior (PSDB).
Os números analisados sinalizam que a população age motivada pela necessidade de mudanças, de ruptura com o modo conhecido de fazer política, onde a corrupção e a dominação pela dependência. O recado do eleitorado é um só: o medo diante dos poderosos de plantão deu lugar à esperança de que um novo País seja construído com base na ética, na justiça e na escuta de todos os brasileiros, livres para expressar seu pensamento sem temer ameaças de retaliação.
Esse é o novo Brasil que o cidadão espera ver de agora em diante!