Causou perplexidade o edital do concurso para a prefeitura de Ouro Preto do Oeste, charmosa cidade no interior de Rondônia. O salário para médicos, independente da especialidade é um pouco menor que 1700 reais.

O que se espera do médico? Que tenha sido um aluno dedicado, tendo sacrificado a sua juventude debruçado em livros e que permaneça nesse empenho de atualização por toda a vida. Somente assim se consegue oferecer o melhor ao seu paciente. Para tanto, há necessidade de enormes gastos. Apenas um congresso no exterior por exemplo, custa aproximadamente o salário anual pago por tal prefeitura.

A alegação quase que invariável nestes concursos é que existem alguns outros benefícios e gratificações, mas ainda que o salário fosse multiplicado por seis, estaria aquém do pago aos estagiários do Programa Mais Médicos, que ainda tem carga horária inferior.

Muitas prefeituras têm feito concursos com salários risíveis e, não aparecendo interessados, culpam os próprios médicos pela degradação da saúde pública. As prefeituras são incapazes de manter sozinhas seus sistemas de saúde funcionando porque no Brasil o pacto federativo está quebrado e o governo federal, que detém a maior parte dos recursos, investe cada vez menos em saúde.

Necessário e indispensável é a aprovação de uma carreira de estado nacional para os médicos do SUS. Assim médicos bem formados seriam levados aos locais mais distantes do país, acabando ainda com a interferência política na atuação médica, onde os profissionais na maior parte das vezes têm contratos precários.

* Cleiton Bach é presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Rondônia – Cremero.